Thursday, April 12, 2007

Firme como uma barra de ferro.

Chegou o Outono à capital… começa a ficar demasiado fresco para usar apenas uma t-shirt, começa a chover, começa a soprar um vento de fazer espirrar… São 10h30m.
Joey olha pelo vidro da janela do seu quarto para as traseiras do prédio e aprecia o tempo cinza e húmido que o faz lembrar-se do clima da sua terra-natal, Braga. O tempo não convida mesmo nada a um passeio. E muito menos convida a um dia de trabalho... Felizmente para Joey, hoje é domingo e não tem urgência! Pode mesmo ficar em casa.
Entretanto, nuns andares mais abaixo, mais concretamente no piso R/Chão, Will sai do elevador e olha pelo vidro da porta de entrada do prédio e vê o vizinho com ar interessantemente surfista (desta vez, sem cão) a aproximar-se correndo para não se molhar muito mais naquele temporal que se auto-anunciava. Will prontifica-se a abrir-lhe a porta, poupando-o a mais uns segundos de molha enquanto procuraria as chaves no bolso. Na realidade, Will prontificaria-se a abrir-lhe algo mais do que a porta e até a procurar as chaves do bolso por ele…
- Obrigado! Bom dia! – diz o jovem vizinho, com um sorriso meio tímido.
- Bom dia! – responde Will com um sorriso excessivamente simpático (um daqueles sorrisos que nos faz pensar “ Está a chover!! Faz frio!! Estamos numa altura do ano em que não se passa de especial!! Porque raio estás com um sorriso de orelha a orelha??”).
Will, apesar de muito sorridente, não adianta muito mais do que um “bom dia!”. Ele até é bastante casual em estabelecer primeiras conversas e uma expressão tão simples como “este tempo está mesmo a ficar mau…” poderia dar origem a uma boa conversa. Quantas vezes um comentário de Will sobre o tempo não terá mais tarde dado origem a uma boa… … ... conversa? No entanto, Will ficara claramente inquieto na presença daquele vizinho por quem já tinha um “fraquinho” logo à primeira vista…
Ao ver que Will fechara a porta da entrada do prédio, o surfista surpreende-se:
- Não ia sair??
- Não… … vou lá baixo, aos arrumos do prédio.
- Ah! Julguei que me tinha aberto a porta porque ia sair… Agradeço então a sua simpatia!
Will quase explode de entusiasmo. Não só é o outro que está a iniciar conversa como, ainda por cima, o seu mero gesto começa logo a arrasar com simpatia. Will descontrai um pouco e ganha uma especial confiança para “fazer-se ao bife”.
- É … vou aos arrumos verificar se está tudo ok com a minha bicicleta… Claro que agora não está muito bom tempo para andar por aí… Mas, caso surja uma aberta, aproveito e meto-me a fundo…
Will faz uma pausa... talvez a pensar na conotação promíscua que esta sua última expressão poderia ter. Depois lamenta ser ainda demasiado cedo neste seu novo relacionamento humano para aproveitar esta deixa para avançar um pouco mais na insinuação… Enfim, outras oportunidades para fazer joguinhos com palavras e trocadilhos preversos não faltarão… espera ele!! E continua:
- Eu sou de Leiria. E, lá em cima, tenho o costume de sair de casa nos domingos e perder a tarde toda nos meus passeios de bicicleta. Às vezes, mesmo debaixo de um frio e uma chuva torrencial…
- Isso é muito porreiro… E em Lisboa pode fazê-lo?
- Claro… vou ali para o parque. É claro que não tem nada a ver com o pinhal de Leira, para onde geralmente vou. A paisagem dos arredores do parque também nada têm a ver com os arredores de Leiria… Mas, é o que se desenrasca.
- Eu também tenho ali a minha bike mas confesso que não ando muito com ela… Agora, sou mais ligado ao surf. Aproveito o tempo livre para surfar… Adoro o Guincho!... Não vou hoje, porque o mar está desordenado.
- Eu também adoro o Guincho… Aliás, eu adoro praia no geral, não fosse eu de uma região com algumas das praias mais belas do país! ahah!...
- Naturalmente… … Quando era puto, costumava ir com os meus pais e o meu irmão para a praia da Nazaré, que é relativamente perto de Leiria. Já lá estiveste?
- A sério??... Certamente já nos cruzámos nas nossas infâncias! Eu também costumava ir para lá fazer praia. Em que anos foste para lá?… hmmm, podemo-nos tratar por “tu”?
- Ahahah!... Claro que sim! Hmm… talvez nos verões de 1986 a 1990.
- Então.. muito provavelmente já nos cruzámos pela praia quando éramos miúdos!! Quiçá até já tenhamos construído uns castelos de areias juntos!!
Tal possibilidade (cómica embora virtualmente muito possível … e até bastante enternecedora) despoleta uma boa gargalhada sincera e, ao mesmo tempo, tímida no vizinho. Naturalmente que Will, com uns copos em cima e se aquele hall de entrada fosse transformado num bar tipo “Bundas Largas” ou num “Ágil”, já teria soltado um piropo à “il-même” do género “O mais curioso é que tu és o meu príncipe encantado e quero viver num castelo contigo…”. Seria novamente demasiado cedo para tal. Will controla-se, até porque nem sabe se o vizinho, aparentemente heterossexual (o que faz com que Will tenha maior vontade de lhe dar uma ferradela no pescoço), também gosta de salsicha com chouriço…
Depois de umas boas gargalhadas a dois (sabendo-se, desde já, que Will espera dar algo mais do que umas boas gargalhadas com o vizinho), surge um silêncio inesperado, o que acaba por condicionar um ambiente momentaneamente perturbador. Will fica inquieto por não saber desenvencilhar-se da situação e o vizinho fica em aparente ansiedade ligeira por não saber como responder à piada dos “castelos de areias”… …
- Já agora, o meu nome é Will. Moro no 5ºDir.
O vizinho corresponde:
- Eu chamo-me Ricardo. Moro precisamente acima de ti, no 6º Dir.
- A sério? Eu estou debaixo de ti??
… …É isto que Will tem também de engraçado. Não tem qualquer dificuldade em elaborar as mais fantásticas frases com conotação dupla, deixando o seu alvo algo confuso e até embaraçado, o que posteriormente acaba por resultar num excelente atractivo. Porém, talvez por força do hábito, surgem estas “saídas” menos “politicamente correctas” sem qualquer segunda intenção, do qual se embaraça ele próprio. Tenta disfarçar, explicando-se…
- É que já moro aqui há algum tempo e nunca tive razões de queixa do vizinho de cima. És muito silencioso!
- Era suposto ser mais barulhento?? – diz Ricardo uma sorriso malandro.
- Não!! – neste momento Will pensa “Oh meu Deus! Isto não me está a correr nada bem!!...” – Não é isso! O que eu queria dizer era que nem dei pela existência de vizinhos de cima, porque não ouço qualquer ruído vindo de cima! …O que é bom, naturalmente!!
...Tão bom como ele, não é, Will?
- Sim… mas agora deixa-me dizer que na próxima semana irei fazer uns arranjos lá em casa, especialmente no meu quarto. Para que lado fica virado o teu quarto?
- Para as traseiras do prédio. – responde Will.
- E pá, que chatice! O meu quarto fica precisamente acima do teu. Vou tentar não fazer muito barulho… mas, já sabes, vai ouvir umas marteladas e uns arrastamentos de móveis. Desculpa lá.
- Não há qualquer problema! Não me deve afectar muito! Eu costumo deitar-me cedo e levantar-me cedo!
Que mentira, Will!!! E continua:
- Desde que seja depois das 8h da matina, é na boa!
O quê, Will?? … … …Ao ponto a que um gajo desce quando se derrete completamente por outro gajo…
- Ok… então garanto-te que nunca antes das 8h … se calhar, nunca antes das 9h! É que eu gosto de dormir!!
- Eu também gosto… mas gosto mais de ser madrugador!!
OH MEU DEUS!! Tem alguma dignidade, Will!!! Não tarda muito estás a lamber-lhe os pés!!! … … ... Eu sei, eu sei… não era de todo mau para ti, Will… ...
Depois de troca de sorrisos e de uma pausa de segundos, Ricardo oferece-se para rematar aquela conversa de ocasião:
- Bom, já agora aproveito a boleia e vou também aos arrumos. Tenho que ir lá buscar o meu berbequim, para começar a adiantar alguma coisa lá no meu quarto.
- Ok! Vamos lá!
Will e Ricardo descem as escadas que os leva até à cave, onde são os arrumos. Ricardo adianta-se e Will, que fica para trás, não fica, porém, NADA insatisfeito. Eis uma excelente oportunidade para apreciar aquele rabinho jovem de pele que a água salgada do mar tratou de amaciar. Para azar de Will, as calças de ganga do moço são largas. Deu, contudo, para imaginar um rabo de “nota 8 em 10!”. À medida que avançam escadas, a luminosidade (já pouco abundante naquele dia cinza) vai-se perdendo. Will apercebe-se que um dos seus desejos mais profundos naquele momento é concretizado: ir para um sítio bem escuro e escondido com Ricardo… … …O que enfim…revela a ânsia sexual vivida naquele momento por Will. Há pessoas que vêm o copo “meio cheio” e Will é uma delas!
Entretanto, perdido em pensamentos mais “pecaminosos”, Will adianta-se demais nas escadas e perde também uma das escadas. Desiquilibra-se, solta um grito/ronco breve, ameaça espatifar-se no chão …para, por fim, ancorar-se com a sua mão direita na nádega esquerda bem firme do vizinho de cima e assim re-estabelecer o seu equilíbrio postural. Sabia lá Will que aquele rabo, que ele apreciara uns poucos segundos antes, acabaria por ser a sua salvação e protecção contra um destino marcado por dores ósseas, distensões musculares e até uns quantos pontos no meio da testa. Além disso, todas as dúvidas que persistiam quanto à possível nota 8 (uma nota atribuída com muito boa vontade, uma vez que as calças eram tão largas que poucos contornos nadegueiros deixavam salientar) eram agora apagadas. Nota confirmada e com possibilidade de subir até ao 10 se for a oral (numa oral em pé, naquela parte em que se agarram as nádegas com as duas mãos, podem-se tirar muito boas conclusões... ... ...).
Apesar de ter colocado a mão no dito cujo, Will não fica, porém, impressionado naquele momento. Fica extremamente embaraçado. Eu diria mesmo que naquele momento Will só queria um buraco para se enfiar… ,tendo eu perfeitamente noção dos riscos que corro, neste contexto, de ser mal interpretado… …
- Ah desculpa, Ricardo… Falhei uma escada. Está muito escuro aqui. Foi sem querer…
(“Sem querer”… pois, pois… …O que tu queres, sei eu!... )
- Não há problema! Estás bem?
Will tenta mostrar-se tranquilo e esconder, o mais que puder, o seu embaraço. Continua a descer as restantes escadas, já à frente de Ricardo, como se esteve apto para correr a maratona. Desata então numa resposta excessiva longa, num discurso que parece não ter fim, o que destrona claramente a sua vontade de ocultar o seu gigante embaraço:
- Sim, estou. Falhei uma escada. Desequilibrei-me. Falta aqui uma lâmpada. Isto pode acontecer a qualquer um. Ainda por cima, está um dia tão cinzento…É que não se vê mesmo nada. E as escadas são tão curtas. Temos que falar disto na próxima reunião do condomínio. É um assunto importante. Se for uma pessoa de idade, pode magoar-se a sério e fazer uma fractura grave. Eu conheço uma senhora de 80 anos que caiu de umas escadas e depois teve que ir para o hospital e ficou lá em internamento…
… … … … … A sério, Will, já ficavas por aí! … … Mas, Ricardo ouve-te até acabares a história toda da senhora de 80 anos, com ar de quem está interessado (ele até disfarça bem… tal como Joey quando os seus doentes começam a contar histórias da irmã da cunhada que teve um desgosto muito grande por ter um filho que anda metido com uma rapariga que só gosta de gastar dinheiro…).
Finalmente, chegam à porta dos arrumos de Ricardo. A porta dos arrumos de Will e Joey fica uns metros à frente. Despedem-se cordialmente.
- Bom, vou então entrar aqui. Até logo ou até amanhã, Will!
- Ok! Eu continuarei esta caminhada atribulada mais uns metros – diz, intervalando com uma gargalhada nervosa - Desculpa mais uma vez. Até logo!
- Não há qualquer problema! Na boa!... Até logo!
Seguem seus caminhos. Will espera ouvir, atrás de si, o fechar da porta dos seus arrumos de Ricardo. Logo que ouve o “estalido” bem sonoro, abre a porta dos seus arrumos e logo depois bate com força à sua frente, sem entrar. Dá meia volta e corre em “bicos de pés” para casa. Tudo que Will não queria era arriscar-se a voltar a encontrar o jovem surfista neste dia, evitando mais uma conversa aparentemente “cool”... Depois daquele momento de “íntimo contacto”, Will prefere a distância do “objecto da sua afecção” pelo menos por 24 horas, até a poeira assentar (ou o embaraço assentar). Entre ficar barricado nos seus arrumos e pisgar-se de forma ridícula em bicos de pés, Will prefere claramente fazer figura de flamingo.
Will abre a porta de casa apressadamente. Fecha a porta atrás de si e, quando olha em frente, depara-se com Joey sentado no sofá, a comer uma bolachas com um prato ao colo (para que as migalhas não caiam na roupa, e consequentemente no chão.. … … uma atitude muito gay… e talvez por isso, muito astuta!... … … Esta associação gay-astuto precisa de ser testada… ). Joey olha por detrás do ombro e surpreende-se com o rosto de Will que revela uma expressão que é um misto de assustado e guloso (basicamente a mesma expressão que Will fazia quando se cruzava com o despido João Fidalgo, o Grande, nos balneários do ginásio que frequentara nos tempos fantásticos em que viveu na nórdica Suécia).
- APALPEI O RABO AO VIZINHO DE CIMA!! – diz Will em tom de voz elevado, embora sem berrar, e com um sorriso que entretanto se apaga repentinamente dando a lugar a uma expressão de surpresa (tipo “o que eu fiz, meus Deuses!”).
Joey não balbucia uma única palavra. Com uma bolacha na boca, sem a mastigar, limita-se a desviar o olhar de Will para algo estranho que se estancava em plena sala e que não faz parte da decoração da sala. Era a Dona Amélia, a simpática senhoria, que entretanto resolvera subir do seu 3ºandar esquerdo até ao seu apartamento alugado para se queixar a Joey de umas vertigens que tem sentido com o pretexto de “verificar se o cilindro lá de casa estava funcional porque o dela tem dado muitos problemas”. Na altura em que Will comunica ao mundo o sucedido, Amélia e seu vestido azul encontravam-se a sair da cozinha...o que resultou no timing perfeito para ouvir perfeitamente o que Will dissera sem ser notada a sua presença. Boa, Will! Mais um golo! Estás em grande hoje!
- Bom dia, Dona Amélia! Tudo bem? Essa cor fica-lhe bem… … Até logo!
Com grande lata, Will sai da sala e dirige-se para o seu quarto, deixando os dois desgraçados na sala, entregues um ao outro. Joey fica sem palavras. Que vai ele dizer? Explicar o lado “inocente” do fantástico anúncio de Will? … Joey não consegue descortinar qualquer lado inocente …muito menos, quando vem de Will. D. Amélia fica com um sorriso estúpido a olhar para o “azul” do seu vestido e, dois segundos depois, volta a fitar Joey, como se esperasse uma explicação … ou então como se esperasse que Joey a mandasse embora. É certo que mesmo a Dona Amélia não queria muito entender a situação. (“AI JESUS! CRUZ CREDO!! Homens sexuais! Que filhos do Demo!!”) Joey re-inicia a mastigação da bolacha e, com ar esforçadamente descontraído embora gaguejando, pergunta:
- Então, o cilindro funciona bem?
- Sim!! Está tudo bem com este cilindro!! – exclama Dona Amélia como se despejasse a resposta na ponta da língua a algo que esperava ser perguntada. Sentia-se em alívio por Joey não tentar explicar aquele “curto-circuito” de comunicação que se estabelecera momentaneamente com a entrada de Will em casa. – Vou ter que ter que ir para casa, tenho que arranjar alguém que me trate do cilindro.
Joey recorda-se de Will lhe ter dito exactamente o mesmo há poucos dias... num contexto completamente diferente, numa conversa bastante paralela…
Dona Amélia e Joey despedem-se com dois beijinhos (o que ela gosta dos “seus meninos”!!…) rapidamente. Ao contrário do que é habitual, não deixa beijinhos para Will, não vá o facto de dizer o nome dele voltar a criar a imagem mental do rapaz a entrar em casa a anunciar que apalpou o rabo do vizinho!!... Au revoir, Amélie!
Joey fecha a porta com calma. Atrás dela, fica dois segundos de olhos postos no chão. Subitamente, desata a rir. Pensamentos do género “A minha vida parece uma novela… ou, pelo menos, uma sit-com!” devem-no ter assaltado naquele momento em que vê a velhinha da Amélia a sair escandalizada da casa e em que se recorda da expressão facial de Will… Deixa a porta, dirige-se para o quarto de Will enquanto murmura para si mesmo “O que aconteceu desta vez? Até tenho medo de saber…”. Bate gentilmente à porta do quarto de Will e depois abre-a. Solta nova gargalhada ao ver Will.
- Tens muito para me contar, suponho… …
- Oh pa, eu hoje só tenho cenas de embaraço!
- Conta lá isso… sou todo ouvidos.
Joey deita-se na cama de Will… enquanto este explica “o drama…o horror…” em pé e gesticulando bastante. Daquele quarto, com bom isolamento acústico (felizmente), são soltas diversas gargalhadas, sobretudo quando Will se sai com mais esta pérola de discurso: "Ele vai martelar em cima de mim esta semana!...".... ... ... E assim… de uma forma muito fácil, aquele dia cinza de Outono fica bem mais quente e alegre.

Deixa para nunca aquilo que podes fazer hoje mas do qual te vais arrepender amanhã de manhã

São 2h30 da matina e Joey dorme tranquilamente no seu quarto. Um sono merecido...
Seu telemóvel, pousado em cima na mesa de cabeceira, apita no silêncio da casa. O sono merecido de Joey é interrompido. Com os olhos meio cerrados, o pobre coitado lê a sms enviada para si. É Will na "festa do fetiche" a cumprir um dos seus fetiches: enviar sms às tantas da madrugada a ver se acorda o pessoal. Na sms pode-se ler: "Maninho?Uou tao bebdado!70 para te dizer que gosto muo de ti e q es uma pe7soa muito qudrida.Da um acraco ao Sarmento q ele é o motivo da tua felicidade. Um beijo grande".Pobre Joey!... Não só está cheio de sono como ainda sente necessidade de acordar "melhor" para tentar decifrar a sms de Will. Poucos segundos depois lá percebe que Will se enfrascou algures e que está em plena festa do Fetiche. Usando as suas forças muito escondidas àquela hora da madrugada, Joey ajeita-se na cama, encontra a melhor posição para escrever esta sms: "Eu também gosto muito de ti, Mano! Onde estás? Estás bem? Tu vê lá... porta-te bem! Não abuses mais do álcool...Um beijo grande". Depois, desliga o telefone, evitando assim acordar com uma resposta do Will às 4h30m a dizer supostamente algo do género "Tou ainda mais bêbado! Só assim se explica que esteja a curtir com um homem casado...". Deita-se de barriga para baixo, estende os braços pela cama toda e adormece após uns três minutos.

O sábado amanhece fantástico, morno e muito solarengo. Uma luz alaranjada e tímida entra pelo quarto de Joey, naquelas 12h que mais parecem 16h da tarde! Joey acorda com aquela sensação de plenitude, de sono completo, de frescura matinal. Liga o rádio do qual saí de imediato o início de uma música tão actual quanto gay: "Sexyback" de Justin Timberlake. Começa a abanar a cama com movimentos de dança um tanto estranhos e descoordenados... basicamente só mexe os braços e os pés. Resolve levantar-se a meio da música e, enquanto procura umas calças de ganga e uma t-shirt branca para vestir, continua a dançar.
Sai do quarto ao mesmo tempo que fere os olhos tal é a luz que percorre aquele corredor. Para ele, a sala e a cozinha parecem templos divinos. Sob aquela dávida luminosa que entra pelas janelas, a sala e a cozinha parecem extraordinarimente amplos e sublimes. Se a Dona Amélia soubesse desta apreciação da sala e da cozinha que Joey fez momentaneamente, aproveitava logo para subir a renda...
Joey vai à cozinha para morfar algo, antes do almoço. Um copo de leite com café morno e duas bolachas parecem perfeitos. Põe um pouco de leite no fogão e liga o rádio da cozinha (que Will levara lá para casa). Preparava-se para fechar a porta da cozinha (não fosse o barulho acordar o Will, que chegara a casa sabem lá os Deuses dele a que horas...), quando um ruído de gente a andar apressadamente surge do corredor. Um individuo de cabelo castanho-aloirado, mais baixo do que Joey, com uma t-shirt caviada laranja a mostrar uns braços bem definidos e umas calças de ganga apertadas, vem em direcção da sala e cozinha. Joey fica perplexo à porta da cozinha. (Eu também ficava... aquelas calças de ganga não podiam ser mais apertadas! Via-se os contornos de tudo!!... ... No entanto, Joey ficará espantado mais por ver um vulto totalmente desconhecido em sua casa...)
- Ah! Olá! Tudo bem? - diz o rapaz que, agora vendo bem, aparentava claramente ser gay e ter uns 23-24 anos.
- Olá... ... - corresponde Joey, com ar de quem se pergunta "MAS QUEM ÉS TU??"
- Sou o Micael. Deves ser o Joey... Não viste aí na cozinha o meu telemóvel, pois não?
- Eu?... Hmmm... não sei... ...
Joey encosta-se a um dos lados da porta da cozinha, como quem permite a entrada do desconhecido na cozinha. Continua com ar perplexo...para não dizer ar de estúpido (essa cara de caso, Joey, não te favorece nada... esperemos que não a faças perante os teus doentes... ... ).
-Ah! Está aqui!
O telefone do Micael estava mesmo em cima da mesa da cozinha. Joey até era capaz de já ter passado os olhos pela mesa...mas no intervalo entre o acordar e o tomar café, parte da realidade passa-lhe ao lado.
Praticamente ao mesmo tempo que Micael encontra o seu telemóvel de 3a geração, Will aparece à porta da cozinha. Nem "Bom dia!" diz a Joey.
- Afinal estava mesmo na cozinha! - exclama o terceiro elemento deste triângulo amistoso.
- Pois... eu disse-te logo... - diz Will, descalço, de boxers pretos e t-shirt branca, cabelo despenteado, aspecto de quem podia dormir mais umas horas (que não fazia mal nenhum...) e com ar de quem estava com pouca vontade de partilhar a alegria daquela laranja humana em encontrar o telefone perdido.
- Bem, eu vou indo. Depois telefono-te, ok? Prazer em conhecer-te, Joey!
Micael estende a mão a Joey. Joey corresponde prontamente, mantendo aquele ar de caso e permanecendo no mesmo canto da porta. Entretanto, Micael e Will saem e dirigem-se para a porta de casa, enquanto Joey vai retirar o leite do fogão. Enquanto procura o café para o leite, está atento aos murmúrios que vêm do hall de entrada. Aguarda ouvir um "smack" que denuncie um beijo na boca. E eis que quando atira uma colher de café solúvel para cima do leite, ouve o tal "smack". Começa a agitar a mistura enquanto congemina um plano para atacar Will em perguntas indiscretas.
Will entra na cozinha 4 segundos depois de fechar a porta de casa. Solta um "Bom dia!" para o ar, sem sequer olhar para Joey. Joey continua a agitar o leite com um colher, enquanto segue fixamente Will com um olhar persistente e com um sorriso claramente irónico. Opta por não dizer nada, simplesmente mantém a perseguição ocular até que Will se sinta desconfortável com a situação e resolva soltar a língua ... para falar sobre a noite em que soltou a língua para outras actividades. Will, por sua vez, começa a procurar algo para comer de armário em armário, praticamente indiferente à presença do amigo. Encontra um prato de sopa, despecha uns cereais e um bocado de leite lá para dentro e senta-se à mesa. Joey continua de pé a agitar o leite, fitando-o.
- Então, não te sentas? - pergunta Will, com descontracção aparente.
Joey, vendo seu amigo particularmente indiferente à situação do olhar perseguidor, desiste da ideia e senta-se à mesa.
- Eu sento-me, claro... Só estava a ver se não havia nenhum ipod ou vibrador qualquer deixado aqui em cima da mesa, desde a noite passada... - aproveita Joey para provocar Will.
- Ah ah! - Will faz uma gargalhadas falsas - Tens muita graça!... ... Escusas de começar com filmes... Curti com ele porque bebi demais! Bem demais do que eu aguento!!... ... Enfim, estou com uma dor de cabeça brutal... ... já estou arrependido.
- Ainda bem que estás!! Eu bem te disse na sms que te enviei para não abusares do álcool!
- Hã? - Will desvia o olhar para Joey com expressão traduzida de "porque estou a falar dalhos e tu de bogalhos?" e explica - Estou arrependido de ter curtido com ele! Duh!
- Ahhh... E então porquê?- Oh pa... Ontem no Duque estava a ser tudo muito fixe... Fui com o Migas e a Catarina (a hag dele). Encontramos lá pessoal conhecido, nomeadamente este Micael... Estivemos a dançar e a beber. Saltei, pulei, telefonei, enviei sms (como tu viste!! )... A certo ponto, eu avisto a 2 metros de mim o Hélio, com o seu grupinho de amigos... Enfim,... surgiu em mim uma ansiedade brutal... Não sabia o que havia de fazer. Esperei que ele viesse ter comigo, se me visse. Mas não veio... Houve uma altura em que os nossos olhares se cruzaram...mas ele disfarçou e virou costas... Não! Foi mesmo no mau sentido de virar as costas, Joey!!... ... Eu fiquei lixado, em baixo. Bebi mais uns copos... e quando dei por mim, estava a trocar uns beijos no pescoço com o Micael...
- Hmmm... e tinhas que o trazer cá para casa?
- Ele beija bem e tal... Achei que também não perdia nada...
- Então, não percebo porque estás arrependido...
- É que ele namora... ... ... e estou com um peso de consciência enorme...
- Hmmm.... pois...
- Sinto-me horrível...
- Vá... deixa lá... ele é que tinha mais que se controlar. Ele é que namora!
- Não é isso... sinto-me horrível por causa dessa dor de cabeça de ressaca!!
- Ah isso... a comunicação está difícil, entre nós.
- Não tens nada para me receitar para esta dor de cabeça?
- Nem penses!! Não vais tomar nada!! Vais aguentar essa ressaca sem ajuda nenhuma... para na próxima vez não repetires a gracinha!! Além disso, já tens muita droga alcoólica no corpo. Não vais agora sobrecarregar o teu figado com medicamentos...
- Bahhhhhh! ... ... ok ok... Vou então ver o "Nunca digas banzai" para a sala... ...
- Tu gostas disso?!... - pergunta Joey com ar de desdém...
- Não há nada melhor do que esta merda na manhã da ressaca. É impossível sentir-me estúpido à frente daquilo...
- ok ok... ... vai lá regredir ainda mais para a frente da tv.
- Isso vindo de um gajo que ficou a ver tv em casa numa sexta-feira à noite!! E que agora fica aqui a comer o seu leitinho com bolachas enquanto ouve a sua rádio a passar a...
Will faz uma pausa e simula uma situaçao emimente de vómito. É que no rádio, ligado noutra estação diferente da que Joey sintonizara ao acordar, volta a tocar a música "sexyback"...
- Meus Deuses!! esta música passa tanta vez que ...que já enjoa! ... E além disto,... era ver ontem no Duque aqueles fatelas de 40 anos hetero a dançar tipo "tenho braços de algodão e tenho pés de chumbo", todos descoordenados, enquanto tentavam engatar miúdas de 25 anos...
Joey ri-se timidamente e remete-se ao silêncio. É abandonado na cozinha. O sol torna-se ainda mais quente, mas a cozinha continua agradavelmente fresca... Joey aprecia a manhã pela janela... ... Ele gosta destas manhãs... ... He's easy... easy like Saturday morning...
Justin Timberlake continua a cantar na rádio, enquanto Joey mete a bolachinha no leite e leva-a à boca... ... ... Que delícia!

Deixa para amanhã o que podes fazer hoje

É final do mês... Setembro despede-se com graciosidade, com dias de um sol generoso e não excessivamente quente. Joey e Will já entraram na rotina dos seus dias, depois de uns dias de adaptação à realidade lisboeta e ao seu próprio novo espaço.
Hoje é sexta-feira. Will chega a casa a meio da tarde. Abre todas as janelas da casa, deixando entrar os raios de luz viva e a brisa morna que reconforta os alfacinhas e os turistas. Vai à cozinha, assobia qualquer música irreconhecível, come duas bolachas e bebe um copo de água fresca. Vai para o seu quarto, descalça-se, tira as calças e as meias...e atira-se para cima da cama em t-shirt e boxers. Suspira mas não fecha os olhos. Tal suspiro não revela um cansaço particular. Revela antes um frenesim interior, uma agitação corporal da qual não consegue desligar-se... talvez um apelo ainda calado. Subitamente, salta da cama, corre até à carteira...e vê o dinheiro de que ainda dispõe. "26 euros? Nada mau...". Decide então sair para a "night" lisboeta naquela sexta-feira à noite. Fica subitamente eufórico com a decisão tomada. E, curiosamente ou talvez não, aquele ligeiro desconforto de agitação interior dá lugar a um entusiasmo e uma sensação de bem-estar com a vida.
Tenta telefonar a Joey, para lhe propôr a saída. Joey não atende e só sairá do hospital mais tarde. Decide telefonar então ao seu amigo Miguel, com quem não estava há imenso tempo. Depois de ouvir do outro lado do telemóvel um "Olá, Will!" tão sonoro e bem-disposto, Will pensou para consigo "ok... vai ser fácil convencer este para uma noitada!".
- Hello, Migas! Estou em Lisboa! Tudo bem?
- Em Lisboa? A fazer o quê? O doutoramento?
- Ya... Depois conto-te! Já tenho casa cá e tudo...
- A sério? Hmmm... ...
Will apercebe-se do tom algo sugestivo deste "hmmm..." de Miguel. Antes que "Migas" pensasse que estava a ser convidado para um jantar nesta nova casa, acabando por comer à mesa e à cama, Will desata a cortar o raciocínio mais ou menos atrevido de Miguel:
- Estou cá a viver com um grande amigo meu... ... É... Mas depois eu conto-te. Estou-te a ligar porque quero ver se saio hoje à noite cá em Lisboa. Queria perguntar-te se não queres vir comigo...e com mais pessoal que possa surgir?
- Sim... quer dizer, só sairei do trabalho pelas 21h. Mas, depois posso, sim. Vou jantar a casa e depois saio contigo.
- ÓPTIMO! ... Eu chego a tua casa pelas 22h, pode ser? E depois vamos de tua casa para algum sítio. Que sugeres? o "Duque"?
- Duque seria excelente! Hoje à noite temos lá a "Festa do Fetiche".
- A sério? É que calha mesmo bem. Estou com uma vontade de ...fetichar. Eheheh!
- Ahahahah!... Eu também... ....
Will faz-se de despercebido no ressurgimento do tom sugestivamente "atrevidote" de Miguel neste "Eu também", e remata a conversa.
- Então, pronto, fica assim combinado. Vou desligar que ainda tenho que arranjar algum traje ou vestimenta para levar para a festa do Fetiche... Beijiiiiiiinhos.
- Pois... também vou ter que pensar. Um beijo grande.
Will desliga. Enquanto vai pousar o telemóvel no armário do quarto, sussura para si mesmo "Se pensas que vai haver pão para chouriço, estás muito enganado, meu amigo...". Depois, abre o guarda-roupa...e aprecia o cenário por momentos como quem admira uma pintura. Arranjar um traje sem gastar um tusco é complicado.
Mais tarde, são 19h45 e Joey chega a casa, cansado e com aquela estranha sensação de que o desodorizante que tem usado afinal não é "grande pistola". Avança pelo corredor da casa em direcção ao seu quarto. Quando se preparava para gritar "Boas, Mano!" ao passar pela porta do quarto deste, eis que Will lhe aparece com um sorriso de orelha a orelha, com um olhar de antecipação e EM TRAJES MENORES... ... ... isto é, vestido de miúdo colegial, com um calções clássicos azuis escuros, meias azuis compridas e subidas até quase aos joelhos, e uma camisa branca metida por dentro dos calções. As sapatilhas que calçava e o boné que cobria os seus caracóis eram os que Will usava habitualmente. O que Will não usava habitualmente era aquela maquiagem, no mínimo cómica, que simulava um rosto com sardas e com umas bochechas rosadas.
Joey fica boquiaberto ao deparar-se com o "cromo next door"...Sem antes largar uma gargalhada, Joey ainda ironiza:
- Porque me fazes isto? Sabes perfeitamente que me deixas louco quando te vestes assim...de Heidi!
- Ahahah! Estúpido! Estou vestido a colegial!
Joey desata (finalmente) a rir... ... ...
- Posso saber quem foi o senhor a quem fizeste o favor de ir comprar o jornal, para depois ficares com o troco e poderes comprar esse yo-yo que tens na mão?
- Oh! ... ... Estou assim vestido porque hoje é a Festa do Fetiche, no "Duque"!!! Vamos!!
- A Festa do Fetiche?? No Duque?? ... Qualquer noite é a festa do fetiche no Duque... ou qualquer outro bar ou discoteca da especialidade...
- Ahah!... Não sejas parvo.
- Tens razão... Enganei-me: nesses bares, qualquer noite é SIM a festa do "faço-te isso".
- Ahah! Anda lá... Vens??
- Nem penses!! Não estou com qualquer paciência para música aos berros, dançar só porque não há bancos para me sentar e chegar tarde a casa. Para além do facto de me sentir horrível hoje...
- Oh!... Horrível? ... ... é por causa desse cheiro a transpiração que exalas?...
Joey olha para o amigo com um ar que revela um misto de "vontade de lançar uma gargalhada" e de "vontade de lhe enfiar o yo-yo pelo ...". Will, por sua vez, adquire uma expressão de puto regila que sabe perfeitamente que está a ser cínico. Esta expressão acalma Joey repentinamente, que se deixa embevecer pela suavidade e pela comicidade daquele aspecto de Will. Dá-lhe um beijo na testa e segue para o seu quarto enquanto re-afirma:
- Estou muito cansado... Tenho um jantar combinado com o Sarmento. Não vou, desculpa.
Will segue Joey, não desistindo.
- Mas tu já me prometeste que vinhas comigo ao Duque e estás sempre a esquivar-te! Tens vergonha?
A primeira resposta de Joey seria um expressivo "Claro que não! Que estupidez!". No entanto, no momento em que se preparava para lançar a resposta (não ao vento mas sim à corrente de ar fortíssima que fazia naquela casa desde que Will abrira as janelas todas...), Joey vira-se para Will e é captado numa reapreciação da imagem daquele vulto com quase 27 anos e vestido de puto com um yo-yo na mão e com sardas falsas no rosto.
- É capaz de ser vergonha, realmente... ... ... - acaba por responder, com ironia.
Will percebe a ironia da piada, mas desvaloriza-a ao ponto de não retorquir.
- Oh...O Duque é tão fixe, maninho... Quando é que vens comigo?
- Não sei, Will! Amanhã, depois de amanhã... daqui a um mês... Hoje é que não!! Tive um dia de cão, morreu uma doente da minha equipa. Estou basicamente com a cabeça em água.
- No Duque, poderias pôr a cabeça... ou melhor, as cabeças noutras cenas... Ah, esquece! és comprometido!...
Joey não consegue conter a gargalhada, o que desejava que não acontecesse de forma a manter o rosto austero que precisava para que Will não o aborrecesse mais com tentativas "pró-Duque".
- Tens que me compreender, Will. Não estou com vontade nenhuma. Tu próprio não me irias querer como companhia, acredita!
- Ok, ok... Vou só com o Migas, então.
- Migas? hmmm...quem é?
- Um amigo meu aqui de Lisboa. Já nos conhecemos há uns poucos anos. Nada de grande amizade, mas é uma companhia divertida. Na realidade, nem é bem AMIGO. Digamos que é sub-amigo.
- E já comeste "migas"? - pergunta Joey, piscando o olho a Will, enquanto começa a despir-se para um banho que anseia desesperadamente.
Will faz uma expressão facial denunciadora. Encosta-se à parede do quarto e olha para a janela, enquanto confessa:
- Digamos que já provei "migas" uma vez, como entrada. Nunca cheguei a comer como prato principal. Fiquei-me mesmo pelas entradas.... .... Quer dizer, não foi houve entrada!! Valham-me os Deuses!! ... ... .. ... Como hei-de explicar?...
- Ficaste-te pelos aperitivos, é isso? - interrompe Joey, com um sorriso malandro.
- Exacto! É isso!... - sorri para Joey, com um olhar de boa cumplicidade. - Além disso, percebi que migas só dá mesmo para aperitivos... Acho que é algo que me enche pouco...
Joey vê mais uma oportunidade fabulosa de dar asas à sua ironia tão característica, quando, no máximo da sua frustração, é travado por Will:
- Sim, sim... mesmo na conotação dupla de "encher"!!
- Ahahahahahhah!... ... Sim, já percebi que és um "homem de muito alimento", como diz o povo. - diz Joey, desapertando os sapatos.
- Por acaso, até nem sou... Não como em grande quantidade. Eu gosto é de comida bem feita. Adoro massas, não migas. E detesto massas muito cozidas... que sabes que ficam muito moles... ... ... ... Eu gosto delas durinhas, "al dente"... ou seja, ao dente...
Joey faz uma pausa no seu ritual pré-duche. Olha para Will, tentando captar nele uma expressão atrevida. Não o consegue fazer.
- Agora no fim, estavas mesmo a falar de massas? - questiona-o.
- Não - responde Will, com uma aparente e artificial indiferença.
Joey solta umas quantas gargalhadas e Will deixa-o sozinho no seu quarto. Já no corredor, Will esboça um sorriso timidamente preverso.
- Bom banho, Joey! - grita antes de fechar a porta do seu quarto.
Do outro lado, Joey não responde. Apenas continua a rir.
20h40: Joey entra na cozinha com ar de frustração. Sarmento tinha um compromisso esquecido com amigos nesta noite e não poderia ir jantar somente com o namorado. Sarmento ainda o convidara para o acompanhar ao encontro de amigos. No entanto, Joey, depois de lidar com a morte durante o dia, estava visivelmente de humor deprimido, o que o tornava um tanto anti-social. Preferiu ficar em casa. Afinal, muita gente fica em casa numa sexta-feira à noite: os avosinhos, os pais de família após 10 anos de casamento, as crianças com menos de 10 anos, e o que estão doentes. É... realmente, estes todos ainda fazem uns quantos!! ...Joey estava disposto a assumir uma atitude de pai de família que via o seu jovem filho a sair para uma noite de discoteca com os amigos.
Quando entra na cozinha, encontra Will, sentado à mesa, a comer uma sopa de forma apressada. Will surpreende-se ao ver Joey equipado com um dos seus fatos de treino de usar em casa:
- Então, não vais com sair com o Sarmento?
- Não. Ligou-me agora a dizer que afinal tinha uma festa de aniversário de um dos amigos dele, que se esquecera quando marcou comigo o suposto jantar para hoje. Enfim, fica para amanhã.
- E então? Reconsideras a minha proposta?? - tenta Will pela última vez.
- Não, Will! Não vou mesmo contigo ao Duque. Estou mesmo a precisar de descansar. Por um lado, ainda bem que vou ficar em casa. Aproveito para relaxar e ver um pouco de tv, enquanto faço a minha própria marca nadegueira no sofá.
Joey sorri para Will, com um olhar visivelmente gasto. Já Will, praticamente em estado de "mania" a contrastar com o estado do seu companheiro de casa, aproveita para revelar um pouco mais da sua vida privada que poderia perfeitamente fazer parte dos "contos eróticos de um coelhinho de Leiria":
- Hmmm... eu já fiz as minhas próprias marcas nadegueiras em sofás...algures por aí... Mas, não foi certamente a ver tv!!
- Ahahah! - Joey lança uma gargalhada, bem menos sonora.
É curioso este aspecto de Joey: nota-se que está verdadeiramente cansado quando a sua gargalhada tem um tom mais baixo do que o habitual. Joey ri-se de forma muito expontânea, com um riso que direi que é pulsante, largo e honesto. E Will adora-o fazer rir. Joey, por sua vez, adora Will por isto (EM PARTE por isto, claro!).
Will acaba de comer a sopa e pousa o prato na banca. Olha para o relógio.
- Bem, eu depois lavo a loiça. Agora tenho que ir retocar a maquiagem.
- Hmmm... ... é tão sexy ouvir um homem dizer isso... - ironiza Joey.
- Ahahah! Estas sardas têm que se lhe diga! Que julgas?
- Acredito que sim.
- Só espero não ter frio nas pernas com estes calções merdosos... ... Bem, entretanto também devo encontrar quem me as aqueça... ... - diz Will, enquanto foge da cozinha.
- A parte que alguém te pode aquecer não vai ter frio: tem duas camadas de roupa por cima!
Do fundo do corredor, Will responde com descaramento:
- Duas?! Ya, fia-te na virgem!
Joey reage somente com um sorriso. Está notoriamente em baixo.
Will entretanto vai ao wc e, em frente ao espelho, repisa com um lápis as sardas que já pintara no rosto. Enquanto cumpre esta tarefa, relembra as possibilidades que tem de encontrar no Duque quem não quer (ou então quer encontrar, mas não devia querer). Uma delas é Hélio, um jovem rapaz da mesma idade, um menino giro da noite de Lisboa. Demasiado moreno, demasiado sorridente, demasido fashion, demasiado egocêntrico e demasiado "importante na sua própria realidade" para ter uma relação séria com Will. Hélio foi o último pesadelo da vida de Will e é uma das razões pelas quais Will tem receio de amar novamente. Nunca desenvolveram propriamente uma relação. Apenas uns encontros excessivamente românticos para serem considerados somente amigos. Numa altura, depois de regressar da Suécia, em que Will precisava de re-estruturar toda uma vida que construira em Portugal, Hélio não soube compreender e dar esse tempo e espaço. Afastou-se, obrigando Will a rastejar para que ele percorresse a distância de volta. Hélio, que é demasiado bonito para ser posto à espera, não voltou. Não se vêm nem se falam há meses.
Passados poucos minutos, Will está pronto para sair. Veste um impermeável fino por cima (tipo gabardine) sobre o traje.
- Já vais? - pergunta Joey, que entretanto já se sentara no sofá em frente à tv, com um prato ao colo e metade de uma sandes de alface e queijo na mão direita. - Vais com esse impermeável?
- Ya!! Ou achas que eu ia assim com este look de puto até casa do Migas?
- Oh! No metro vê-se cada maluco. Tenta ir na carruagem do metro com um senhor que fala sozinho! Com ele lá dentro, acredita que ninguém vai reparar em ti.
- O meu problema não é o metro! É mesmo porque vou passar pelo Parque Eduardo VII até chegar a casa do Migas!
Joey lança uma gargalhada seca.
- Tens a certeza que ficas bem? - pergunta Will.
- Claro que sim! Ainda por cima, vi agora que no episódio de hoje daquela série da Sic, a "Promete que nao vais ter uma aventura", o gajo tarado sexual da série anda desesperado e estou a ver se vai atirar ao melhor amigo.
Will faz um silêncio de 2 segundos.
- E não queres vir ao Duque? Lá podes ver cenas iguais a essa ...mas ao vivo!!
- Ahahahah! Por muito tentador que isso seja, ... ...ou então não!! ...prefiro manter-me distante e mirar apenas através da televisão.
- OK!!... Até logo então!! - Will despede-se.
- Até logo não... Até amanhã! E vê se te portas bem!... Não deixes qualquer um brincar com o teu yo-yo.
- Naaaa... se eles quiserem brincar com o meu brinquedo, vou-lhes dizer: "Se vocês querem brincar com isto, primeiro têm que brincar com yo!! yo!! (eu!! eu!!)" - goza Will, apontando para si mesmo.
- Ahahah! ...
- Eu também vou acima e abaixo, se tiverem jeitinho.... tal como um yoyo...
- Ahahahahhahahahah! Andas com umas piadas muito giras...
- Ya! Nem percebo porque ainda estou solteiro e sem namorado!! Eu faço a vida de qualquer um ser mais gira!
Joey volta a rir, desta vez mais animado.
- Até logo, maninho!! E não bebas muito, a sério!....
- Ok, senhor Doutor! Beijocas!!
Will fecha a porta. Entra no elevador e observa-se ao espelho do elevador mais uma vez enquanto pensa "ok... nem acredito que vou assim para o metro... mas não há-de ser nada!".
Entretanto, Joey reencosta-se ao sofá e decide voltar a atacar a sandes. Antes de cravar sequer seus dentes no suave pão de forma, o seu telemóvel apita dentro do bolso da sua camisola. Trata-se de uma sms de Sarmento a dizer algo tão simples como "Fazes-me falta, em qualquer altura... Amo-te!". Joey sorri com ternura. Decide responder mais tarde à sms, quando já estiver deitado e pronto para adormecer agarrado à almofada. Depois da sms, ganha um pouco mais de alma... e ataca a sandes com toda a volúpia. Olha novamente para a tv...e esboça mais um sorriso tímido, enquanto mastiga. Nota-se claramente que este sorriso nada tem a ver com algo que passa na tv... ... ...

Lisboa tem mais encanto na hora da chegada

Joey pára em frente à porta do prédio onde irá habitar nos próximos tempos. Carregado, com uma mochila às costas que praticamente desfazem os seus ombros lentamente e com duas malas castanhas - uma de cada lado das suas pernas - , faz uma pausa para apreciar melhor o prédio e a rua que farão parte desta nova etapa da sua vida. Deixa-se levar, por momentos, por um esquema de pensamento um tanto melodramático do género "Esta rua ver-me-à a correr de manhã, ver-me-à a chegar cansado a casa... ver-me-à a chegar a casa a sorrir, ver-me-à a olhar pela janela a olhar para ela... ver-me-à a crescer e a amadurecer...ver-me, enfim, a transformar-me em senhor do meu nariz...". Enfim, algo muito ao género de filme lamechas americano. Sou capaz até de adivinhar que uma musiquinha imaginária com piano e violino lhe passava bem aos ouvidos, na altura em que ele embarcou naquela corrente de pensamento... Joey é um bocado assim: capta os momentos, agarra-se a eles (aos momentos!! ...)... ... ... esconde-se no tempo, porque o tempo tem asas... (ok, isto já é outra onda musical...). Como dizia, Joey é um tanto sonhador e vive da captação de momentos, que mais tarde irá recordar. Este momento da chegada a sua nova casa, exactamente da mesma maneira que o fará todos os fins de dia de trabalho nos próximos meses, é especial para ele.
O sol brilha neste dia de setembro, felizmente não muito quente (porque Joey transpira com imensa facilidade.... talvez pelo facto de ser um homem muito quente... ... consta, consta...). Joey lá acorda para o mundo real e resolve tocar à campainha do 5ºDir, o apartamento que partilhará com Will, que entretanto já tivera chegado. Enquanto espera que Will lhe abra a porta do prédio, Joey vê a sua imagem refletida no vidro da porta, ajeita o cabelo e ainda tem tempo para pensar "Deixar o Will sozinho numa casa por decorar não foi muito boa ideia. Neste momento, já tenho uma múmia pagã como elemento central da decoração da sala... ... Tou f*dido!". Will lá abre depois de dizer um "Oláaaaaaa!" muito efusivo através do intercomunicador. Joey pensa "ok, está eufórico! Está mesmo excitado com a decoração! Estou mesmo lixado!". Enquanto entra para o hall do prédio, prendendo a porta com um dos pés e puxando as malas de fora para dentro, um cachorro vem das escadas e corre até ele para o cheirar. O cão nao o chateia muito e segue para a rua. Logo a seguir, aparece das escadas um vulto (o dono do cachorro, claro está)com uma coleira na mão. O vulto é aquele vizinho todo jeitoso que todo o prédio deve ter. Aparenta ter aquela idade que ronda os 24 ou 25anos, é ligeiramente mais baixo do que Joey (algo em torno dos 1,78m), tem cabelos meio aloirados e compridos... um aspecto misto entre surfista de mar e surfista da net. Tem uns óculos de sol bem largos que tapam quase a face toda, umas calças de ganga largas e uma t-shirt meio rosa com tema alusivo a uma das marcas da moda (Calvin Klein, talvez...). Esboça um sorriso tímido e saí. Joey também sorri mas pouco lhe olha. No entanto, os míninos dois segundos que desviou os seus olhos para esse vulto foram suficientes para perceber algo tão simples "Óculos e t-shirt ... aprovadamente gay. Ar de surfista e uma coleira na mão...aprovadamente para Will".
Joey lá se mete no elevador, que já não vai para novo (tem aí uns 10 anos). Enquanto sobe, pesquisa a data da última inspecção ao elevador. Lê numa pequena placa que a ultima revisão foi em Junho deste mesmo ano. Tal tranquiliza-o. Sai no 5ºandar. O Will já está à porta e vem logo ajudá-lo, gritando da porta "MANIIIIIIIINHOOOOOOOOOOOO!!". É... maninho... Will e Joey tratam-se por manos. Uma pirosada muito comum entre a malta jovem. Vocês próprios, caros leitores, terão alguém a quem tratam por "mano". Sim, vocês são pirosos também. Mas, deixei-me dizer que eu também sou piroso... porque eu também trato ... Bem, eu sou o narrador e o protagonismo tem que ser todo de Joey e Will.
Depois de um abraço, Joey acaba por dispensar a ajuda de Will e entra para casa. Vão logo para a sala, onde Joey descarrega as malas e tira a mochila dos ombros, esticando-se todo. Enquanto se estica, repara que realmente já tem uma das figuras em barro pagãs de Will em cima da mesa da sala... Tal figura não é bem uma múmia mas sim uma imagem que simboliza o seu Deus da Fertilidade. Basicamente, trata-se de uma escultura em barro, de um corpo masculino bem constituído e com um pénis desproporcionalmente grande erecto.
- Não estás a pensar usar ali o deus da fertilidade como decoração da sala, pois não? - pergunta Joey, esperando ouvir um "não".
- Não, não... Pousei ali por uns tempos, porque ainda estou a arrumar o meu quarto. Vai para um espaço do meu quarto, no qual farei um altar de culto.
- Pois... ... Não sei bem se isso é demasiado gay ou se é simplesmente pagão...
Will ri-se. Desvaloriza a provocação.
- Então?...FINALMENTE SÓS!! - e volta a rir.
- Finalmente sós, não...que eu já percebi que vamos estar sempre rodeados de vizinhos com bom aspecto... Encontrei há bocado um vizinho nosso lá no hall de entrada, que tem...
- um cão???
- Sim...exacto.
- SIM!! já tive prazer de o ver!... algo que me diz que o cão não vai ser o único de gatas naquela casa...
Joey desata a rir.
- Pode ser que tenhas sorte...
- Sim, é giro! ... Se bem que a minha prioridade agora é outra. A minha prioridade está na faculdade!
- Sim sim... claro.... estou mesmo a ver que só vais estudar para o doutoramento nestes tempos!!... ... ... Sobretudo depois de uma temporada a seco em Leiria.... - Joey ironiza.
- Hoje fui à secretaria da faculdade tratar da papelada para o doutoramento. Enquanto esperava na fila pela minha vez, reparei que estava também um rapazito muito interessante na fila, logo atrás de mim.
- Pois... interessa-te realmente que eles fiquem "atrás" de ti...
- Ahahah!... Ora nem mais!... ... Bom, o que é certo é que eu vi-o com três amigas e depois de uns poucos segundos, lá trocámos uns olhares. Não nos falámos, no entanto. Enfim, aguardo os próximos capítulos.
- Pois...estás a ver?? Que tem isso a ver com o doutoramento e com a tua prioridade?
- Desculpa lá... mas eu disse-te que a minha prioridade estava NA faculdade. Ele está na faculdade. É lá aluno.
Joey ri-se novamente e suspira. Vai abrir mais a janela da sala, que dá para a varanda (que por sua vez dá para a rua) ... e vai-se sentar num dos dois sofás da D. Amélia (a senhoria).
- Estes sofás são confortáveis! Que bom! A Amélia sabe escolher...
Will senta-se também, no outro sofá (maior e com lugar para 3 pessoas). Concorda com o comentário de Joey. Aguenta-se sentado poucos segundos. Deita-se logo a seguir.
Ambos fazem uma pausa, um silêncio, olhando vagamente para a decoração pobre e natural da sala...como se ambos estivessem a assimilar os "finalmentes" de um compromisso com a vida que ambos acabaram de assumir. Joey encosta-se melhor, dobra a perna com o tornozelo direito sobre o joelho esquerdo... e pergunta a Will pelas andanças em torno do doutoramento. Will começa a explicar as últimas novidades, olhando para o tecto e gesticulando.
Entretanto, uma brisa de oeste entra pela janela da sala, arejando e decompondo os últimos vestígios olfactivos de gentes que anteriormente habitaram aquele espaço com dois quartos, dois wcs, uma sala e uma cozinha. Olhando para eles a falar, ... ... parecem felizes!

Mas...quem são estes cromos?

Will e Joey são dois jovens portugueses que tentam viver a sua própria felicidade na maioria dos dias que têm pela frente. São amigos de longa data... não amigos de infância... mas sim amigos da juventude, mas muito próximos. Tão próximos que decidiram partilhar um apartamento em Lisboa, revelando ambos uma especial coragem no desafio que tal implica. Partilhar uma casa com um amigo próximo pode ser bom ou mau: é bom no sentido em que qualquer discussão que surja é resolvida pouco tempo depois uma vez que já se conhecem mutuamente (e, portanto, não se farão aquelas interpretações maldosas ou demasiado especulativas que só iriam minar a situação) e é mau no sentido em que se houver bronca séria (geralmente envolvendo uma terceira pessoa...o chamado "boi" ou a chamada "cabra") a valiosa amizade vai mesmo pelos ares. Entretanto, a coragem de assumir tal compromisso de honra e respeito é hipervalorizada a partir do momento em que se depara este maravilhoso contexto do lar: ambos gostam do mesmo, ambos querem o mesmo... o mesmo é dizer, ambos são gays. E, como se não bastasse, ambos são filhos únicos. Dois leões a lutarem pelo seu espaço, num apartamento raquítico na capital, a pagar caro e a ser lixados à força toda pela senhoria que vai lá de tempos em tempos criticar a decoração do quarto de Will e pedir consultas médicas de borla a Joey... enfim, estamos perante uma situação um tanto agressiva. Dá mesmo vontade de dizer "Fod*x, antes preferia trilhar o dedo mindinho num dos portões do palácio de Belém!".Will é licenciado em História. Faz 27 anos em 2007 e é de Leiria. Depois de se ter afastado da capital após concluir o curso superior, regressa agora com um brilhozinho nos olhos. Nos tempos que esteve longe de Lisboa, aventurou-se com sucesso num mestrado na gélida Suécia até Maio/2006 e posteriormente aventurou-se com insucesso numa travessia do deserto em Leiria, onde confessa que estava prestes a enlouquecer ou, como ele próprio diria uma vez, "converter-me ao celibato". Will é tal como o vêm: social (socialista? ...vou ter que lhe perguntar), alegre (gay e alegre, mesmo), amável, efusivo, eufórico, sentimentalista, autêntico, genuíno, sincero...Tem muitos amigos, mas são poucos os que entram realmente no seu coração. Tem muitos gajos, mas são poucos os que entram no... bem, Will tem sobretudo inteligência e é dono de uma cultura geral vastíssima. Ri-se com naturalidade... faz os outros rir naturalmente. Poucos são os que se ficam por um sorriso amarelo. É impossível. Will é também um jovem adulto que mantém ainda um ar de teenager. Aparenta ser mais novo, uma característica que se apagará certamente à medida que a grande cidade o atordoar lentamente dia após dia. Tem 1,80m, cabelos aos caracóis de um castanho bem notório, um sorriso "colgate" que faz com que consiga mover mundos... e bundas. É bonito e elegante, mas nem por isso feliz no amor. Uma série de desilusões amorosas já o fizeram questionar (qual drama-queen?) a verdadeira essência do amor e já se sentiu tentado a virar costas ao amor (e não no bom sentido de virar as costas...). Lisboa representa, para ele, neste momento, o doutoramento - o seu novo desafio profissional - e a esperança de vir a preencher um coração que há muito anseia bater mais forte.Joey é médico, recém-licenciado. Faz também 27 anos em 2007 e é de Braga. Vem para a capital para iniciar seu internato médico num dos hospitais mais concorridos do país - Hospital de Santa Maria. Lisboa representa, para ele, a grande cidade que até agora o fascina e a possibilidade de iniciar uma vida num local onde poucos o conhecem, onde poucos o podem socorrer pelas coisas mais mínimas...e naturalmente, a possibilidade de ser feliz. Joey não se considera, entretanto, uma pessoa infeliz. Muito pelo contrário. Revela que tem conhecido pessoas extraordinárias na vida que o adoram e que ele adora, uma delas é o Will. Conhece também o actual namorado, o Sarmento, um "nativo" alfacinha. Depois de uma temporada a viver uma relação de namoro à distância, Joey e Sarmento finalmente podem conhecer o gostinho do quotidiano "quase em comum", podem finalmente chatear-se com pequenices que não interessam nem ao Papa, podem andar à porrada como se fossem irmãos e podem, claro, fazer as pazes e retomar. Joey é, portanto, um homem do Norte. Muitos dizem que tem um charme estilo George Clooney. Talvez pelo facto de ser médico e de nos fazer lembrar a imagem do jovem George no Serviço de Urgências?... Talvez não... há quem atribua esse charme mesmo ao facto de ser do Norte e de ter aquela pronúncia que, apesar de "provenciana" para muitos queques de Cascais, acende o fogo interior a muita gente... ... E mais não digo! Mas o que é certo é que Joey não tem bem noção do impacto que a sua imagem exterior tem nos outros. Raramente sai à noite. Nunca esteve sequer numa discoteca gay. Não tem bem noção do que é ser brutalmente apalpado e do que é esperar minutos sem fim à porta de uma cabine do wc até que os dois vultos resolvam sair e dar lugar a quem quer só ir dar uma mijinha sem ter que passar pelos olhares mirones dos indívíduos que praticamente habitam nos urinóis. Joey tem, no entanto, noção que desconhece muito desse mundo "paralelo" ao seu mundo... mas, não tem curiosidade. É um romântico, capaz de fazer TUDO por amor. No entanto, não fez ainda TUDO por Sarmento... Aguardam-se próximos desenvolvimentos.Wil e Joey são assim estes cromos...fantásticos, fascinantes e acima de tudo, personagens curiosas. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.